Vida e obra de Charles Bukowski


Não espere belas estórias ao ler este texto. Não existem estórias de amor e felicidade nas obras deste homem. A bebedeira, o sexo e a solidão são os assuntos de sua vida. E se você pensa que é "diferente", pare e reflita de novo, pois eu me senti um merdinha chorão enquanto pesquisava sobre a história de Charles Bukowski.
Nascido em Andernach, na Alemanha, se mudou para o subúrbio de Los Angeles, nos Estados Unidos, ainda bebê com seus pais, um soldado americano e uma jovem alemã. Desde criança era espancado por seu pai, que lhe batia simplesmente para extravasar as frustrações de sua vida. E como se não bastasse, ainda na adolescência sofreu com problemas de saúde que deixaram seu rosto e a parte superior de seu corpo cobertos com inflamações. Se tratou em um hospital público perto de sua casa, mas isso não foi o suficiente para que as crianças parassem de humilha-lo por seu rosto deformado.
Com poucos amigos, e sem carinho familiar, abandonou a escola. Passou um ano sem estudar, e foi nesse meio tempo que encontrou seus eternos companheiros: O álcool e os livros. Foi mais ou menos nessa época em que começou a escrever poesias. Já adulto, trabalhou em vários empregos temporários, como frentista, balconista de um correio e motorista de caminhão, pulando de cidade em cidade. Chegou até a estudar jornalismo, mas nunca se formou.
Em meados de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial (e após ser preso pelo FBI por suspeita de evasão de divisas), Bukowski começou a mandar seus contos à revistas independentes, na esperança de um dia ser reconhecido por seu talento. Acabou conseguindo ter dois de seus contos publicados, aos seus 24 anos. Porém, ainda sem conseguir entrar de vez no mundo literário, passou quase 10 anos em desilusão, escrevendo sem parar em seus "anos perdidos", o que acabou sendo a base para sua posterior crônica autobiografica, onde as versões fictícias de sua vida são retratadas pelo seu alter-ego, Henry Chinaski.
Em 1957, conheceu Barbara Frye, editora de uma das revistas para qual havia mandado suas poesias. Os dois começaram a se corresponder, e continuaram assim por um bom tempo. Um dia, em uma das cartas enviadas por Frye, ela dizia de modo triste, que nenhum homem sentiria vontade de se casar com ela. Bukowski a respondeu dizendo apenas: "Eu me casarei". Se conheceram pessoalmente e logo se casaram, em 29 de outubro de 1955. Porém, 2 anos depois, tão rápido quanto seu noivado, divorciaram-se.
Com quase 40 anos, Bukowski já havia escrito diversos contos e poemas, além de ter sido internado várias vezes com crises de hemorragia geradas pelo abuso do álcool e do cigarro. Já havia ganho certa notoriedade, mas ainda não era visto como um grande nome. Contudo, quando seu alter-ego Henry Chinaski ganhou vida, um vagabundo sujo, bêbado e depravado, é que Charles Bukowski começou a ser visto como um gênio.
Suas estórias eram repletas de sujeira, com prostitutas, álcool, sexo, e toda merda que havia nos becos de Los Angeles, onde viveu por mais de 50 anos, e onde sua infância foi marcada pelas surras de seu pai. Cheias de melancolia, ódio, amor e paixão, as obras de Bukowski se tornaram um marco na literatura americana. Seu estilo era coloquial e autobiografico, com um senso de humor feroz e uma auto-ironia, que o renderam comparações a autores da Geração Beat, como Jack Kerouac e Allen Ginsberg.
Escreveu mais de 45 livros, de romances, contos e poesias. Entre seus maiores sucessos estão os romances: "Cartas na rua", "Mulheres" e "Misto-quente"; os livros de contos: "Ereções, ejaculações e exibicionismos" e "Ao Sul de Lugar Nenhum - Histórias da Vida Subterrânea"; e os livros de poesia: "Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém" e "Flores".
Outra de suas atividades, era a leitura de seus poemas em universidades e eventos culturais. Seu modo de interpretar os poemas era único, o que tornavam suas apresentação ainda mais especiais. O problema que ele ficava muito nervoso antes de subir no palco, e por isso sempre bebia durante as leituras. Conforme o tempo passava, o público começava a ficar irritado com a bebedeira, e o velho Buk, já bêbado, acabava por provocar brigas com a platéia. Ele ainda chegou a gravar alguns CDs, com as leituras de seus poemas e poesias.
Bukowski morreu de pneumonia, decorrente de um tratamento de leucemia, na cidade de San Pedro, Califórnia, no dia 9 de Março de 1994, aos 73 anos de idade, pouco depois de terminar seu último romance: Pulp. Ele deixou uma filha, Marina Bukowski, fruto de seu segundo casamento, com Frances Smith.
Bukowski será pra sempre lembrado como o gênio que foi. Ele viveu na sarjeta, e fez dela sua maior inspiração. Alguns "herdeiros" de sua literatura sempre irão aparecer com o tempo, mas nenhum outro homem conseguirá transformar aquele inferno imundo em uma arte tão bela. Um brinde a Charles Bukowski!


Abaixo estão duas das mais belas poesias escritas pelo velho Buk, na minha opinião. Ambas na voz de Bukowski, com sua esplêndida interpretação. Aproveite:


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5 comentários:

Anônimo disse...

Fantástico

Anônimo disse...

Me arrepiei com Bluebird.

Thiago Marques disse...

ESSE SIM ERA O VERDADEIRO FUCK YEAH

Luís disse...

Belo post man! O velho safado realmente era bom com as palavras. Só tem um erro na matéria. Ele não foi balconista dos correios e sim carteiro. E não foi só por um tempo, se não me engano foram treze anos. Treze anos num emprego que ele odiava! Essa parte da vida dele é retratada no livro Post Office, ou Caratas na Rua.
No mais, parabéns pelo post!

Luís disse...

E reza a lenda que a série Californication foi inspirada (em parte) na vida dele. E se for comparar, Hank Mody e Hank Chinaski são bem parecidos. Ambos são fodidos, a diferença é que um é pobre e outro é rico.

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